segunda-feira, 30 de março de 2020

Crítica: O céu sobre os ombros



O peso da existência

O céu sobre os ombros (Brasil, 2010), roteirizado (em parceria com Manuela Dias) e dirigido por Sérgio Borges, trabalha com a coragem para enfrentar, aceitar ou tentar modificar, mas sempre suavizando a realidade da existência humana, ao narrar o cotidiano de três personagens moradores da periferia de Belo Horizonte.

O filme une o conceito de documentário com a forma convencional da ficção e aborda com desenvoltura as atividades e ideias que o trio apresenta na tela. E evidencia que todo ser humano possui habilidades específicas que o diferencia dos demais.

Vencedor do Festival de cinema de Brasília de 2010, O céu sobre os ombros procura os ângulos de visão de seus retratados em relação aos seus respectivos universos específicos, sem esquecer as questões universais que cada um apresenta em seu repertório construído ao longo de seus anos de vida (os protagonistas beiram os trinta anos).

O filme apresenta a solidão do trio como objeto fílmico que os entrelaça, mas Sérgio Borges aspira mesmo apresentar o quanto cada personagem sente o céu sobre os seus próprios ombros para carregar.

A película apresenta o africano desiludido e candidato a escritor, Lwei; o travesti intelectual, Everlyn, e o religioso e torcedor de carteirinha do Atlético/MG, Murari. Três pessoas com seus conflitos, dilemas, gostos e opções de lazer (e prazer) diferentes.

O diretor soube explorar ao máximo o psicológico de cada um e concebeu uma obra existencialista e humana. O céu sobre os ombros possui uma narrativa definida e abrangente sobre as particularidades de seus retratados.

O céu sobre os ombros é interessante como cinema e contém um vasto material de cunho filosófico-sociológico-psicológico-antropológico que suscita um debate após o término de sua projeção. A produção, lapidada na estética e crua no conteúdo, se permite exibir uma cena de sexo real entre Everlyn e um cliente.

A obra esmiúça o peso da condição e existência humana sob uma ótica realista e traça um painel otimista sobre as diversas formas de condução da vida.

Márcio Malheiros França